Mostrando postagens com marcador UPP "festa literária" "morro dos prazeres" "rio de janeiro". Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador UPP "festa literária" "morro dos prazeres" "rio de janeiro". Mostrar todas as postagens

domingo, 16 de outubro de 2011

Festa Literária das UPPs promete levar autores e grandes editoras ao Morro dos Prazeres(RJ)

Paraty (não) é aqui

Festa Literária das UPPs promete levar autores e grandes editoras ao Morro dos Prazeres

Plantão | Publicada em 16/10/2011 às 09h23m
Leonardo Lichote (llichote@oglobo.com.br)
  • R1
  • R2
  • R3
  • R4
  • R5
  • MÉDIA: 0,0
O CURADOR Toni Marques (à frente) e os diretores Alexandre Mathias, Ecio Salles e Julio Ludemir
RIO - Na vitrola de ficha da favela ouve-se um audiobook em vez de música; o carro de som sobe e desce as ruas do morro e, no lugar de anúncio de baile, textos de Lima Barreto saem das caixas; a TV do botequim transmite debates entre autores. Cenas como essas serão realidade entre 15 e 18 de novembro de 2012, quando acontecerá no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, a primeira Festa Literária Internacional das UPPs, a Flupp. A sigla é, ao mesmo tempo, uma provocação à Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e uma declaração de que vem dali sua maior inspiração. Parafraseando Caetano Veloso, Paraty é aqui, Paraty não é aqui.
Com curadoria do jornalista e escritor Toni Marques, o evento tem a ambição de marcar lugar no calendário literário mundial - com autores consagrados e a participação de grandes editoras, como na Flip - enquanto afirma sua originalidade nos temas das mesas e na abordagem de literatura (que inclui games e a nova língua das mensagens eletrônicas), sempre assumindo seu caráter de deslocamento, como nas cenas que abrem este texto.
- A escolha do Morro dos Prazeres é bem simbólica disso - explica o escritor e pesquisador Ecio Salles, um dos idealizadores da Flupp e integrante de sua diretoria executiva ao lado da pesquisadora Heloísa Buarque de Holanda, do antropólogo Luiz Eduardo Soares, do escritor Julio Ludemir e do empresário Alexandre Mathias. - Quando surgiu a ideia de fazermos o evento, pensamos: Onde? Na Zona Sul, reafirmando os clichês sobre o Rio? Na periferia, com todas as questões logísticas que isso traz? Veio o óbvio, um lugar no meio da cidade, com uma vista maravilhosa, de um lado para a Zona Norte e de outro para a Zona Sul. Um olhar definitivo sobre a cidade, o 360° que queríamos.
O conselho consultivo da Flupp tem Zuenir Ventura, Paulo Roberto Pires (editor da revista "serrote") e Jailson de Souza e Silva (criador do Observatório de Favelas). Gringo Cardia fará a programação visual do evento. Ainda não estão confirmados patrocinadores - eles garantem apenas que a Flupp já despertou interesse "de empresas de grande porte" - nem autores convidados. Os organizadores, porém, sabem o que querem: autores estrangeiros ou nacionais que atingiram o sucesso publicando de forma independente; best-sellers como Paulo Coelho ou J.K. Rowling; fenômenos de venda locais em regiões do Brasil, mas desconhecidos fora dali; artistas que experimentam novas relações com o livro (do artesanal ao digital) e com o narrar.
Marques lista ainda temas que interessam à Flupp:
- A questão central é: "Qual é a massa do biscoito fino ou qual é o biscoito fino para essa massa?" É uma via de mão dupla. Porque o conceito de cultura para a classe C não pode ser entendido como a formalização do que se imagina que ela já tem, como samba e funk. Um dos temas de mesa seria "O que é a cultura da classe C"? Outro tema são as narrativas colaborativas. Queremos dar espaço a livros feitos por policiais. Porque há literatura de resistência, mas também de ocupação, e será bom ver esse diálogo. Outra ideia é o "Português.BR", que tentará entender como a língua viva se torna mais viva eletronicamente.
A escolha de Lima Barreto - mulato, acusado em sua época de ser coloquial demais, um pesquisador outsider da língua - como autor homenageado se enquadra no conceito da Flupp, explica Marques:
- De uma maneira retrofuturista, ele é o homem desse mundo.
Mas a arma mais poderosa é o livro, que não tem que estar com 15 policiais, e sim com toda a comunidade. Quando isso acontecer, a UPP vai se concretizar
O uso das UPPs, mais que sustentar a brincadeira Flip/Flupp, tem força simbólica. Os organizadores veem na Unidade de Polícia Pacificadora uma forma de pensar a favela como parte da cidade:
- Mas a arma mais poderosa é o livro, que não tem que estar com 15 policiais, e sim com toda a comunidade. Quando isso acontecer, a UPP vai se concretizar - diz Ludemir.
Apesar da localização nada ortodoxa, a estrutura será tradicional, similar à da Flip. Haverá uma tenda para cerca de 400 pessoas. E as mesas serão transmitidas por TVs espalhadas pela favela e telões em outras UPPs. Um segundo espaço - eles negociam o Casarão das Artes - vai abrigar eventos paralelos. E o campo de futebol no alto do morro (usado pela MTV no programa "Rock Gol") pode servir a peladas de autores. Como na Flip, um show abrirá a festa, e crianças terão a Flupp Júnior. Marcio Swk, morador dos Prazeres e fundador do coletivo de grafite Santa Crew, organizará um grupo de grafiteiros para pintar três painéis no evento. E já está previsto um concurso literário nas favelas:
- A ideia é que ele seja tão impactante quanto o "Paraty para mim", da Flip, que revelou João Paulo Cuenca e Santiago Nazarian - diz Ludemir.
Foi na tão citada Flip, aliás, que ele teve a ideia que serviu de estopim para a criação da Flupp.
- Vou todos os anos e acho espetacular, mas lá tem aquilo de que você só é bacana quando é convidado para a festa da Companhia das Letras. Pensamos que poderíamos fazer diferente. Mas não somos uma antiFlip ou Flip do B. Nossa proposta dialoga com ela, completa. Queremos as grandes editoras conosco.
- Não somos uma elite ao contrário - acrescenta Marques.
Luiz Eduardo Soares defende que o papel central da Flupp é preencher uma lacuna.
- Faltava um encontro que fosse inovador, provocativo, que refletisse o Rio dos últimos anos, essa articulação de redes que ignora a topografia criando uma polifonia.
Ou, como diz Heloísa Buarque:
- É uma Flip mais aberta, contemporânea, atenta a esse momento de articulação de saberes, quando o conhecimento se dá de forma colaborativa.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/10/15/festa-literaria-das-upps-promete-levar-autores-grandes-editoras-ao-morro-dos-prazeres-925588642.asp#ixzz1awhDbCJx 
© 1996 - 2011. Todos os direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. 



http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/10/15/festa-literaria-das-upps-promete-levar-autores-grandes-editoras-ao-morro-dos-prazeres-925588642.asp