II Bienal Internacional Graffiti Fine Art colore o MuBE, em São Paulo
Até o dia 24 de fevereiro, os paulistanos poderão conferir uma seleção de artistas que integram a nova geração do graffiti nacional e internacional, no MuBE. Trata-se da segunda edição da Bienal Internacional Graffiti Fine Art, organizado e com curadoria de Binho Ribeiro.
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Nesse sentido, o MuBE é um espaço privilegiado. Sua arquitetura singular a alternância entre áreas expositivas externas e internas permitem inovações por parte dos artistas, e muitos conseguiram escapar da tentação de simplesmente transpor o mural que seria feito na rua para dentro do museu (ainda que pela proposta da exposição, que acaba colocando-se quase como uma mostra do que está sendo feito de melhor nas ruas, isso fosse aceitável).
Provavelmente por uma escolha bastante feliz da curadoria, alguns dos nomes menos conhecidos em São Paulo mereceram maior destaque, com espaços privilegiados e amplos, enquanto alguns artistas consagrados limitaram-se a apenas um pequeno quadro ou painel. Assim, foram representados, mas deixando espaço para que o público apreciasse talentos menos difundidos aqui.
Assim, Speto e Nunca foram representados com apenas um pequeno quadro cada (ainda que esses fossem exemplos perfeitos do estilo de cada um, sendo reconhecíveis de longe), e Magrela fez seu mural em um local de menor destaque – sendo a obra em si um de seus trabalhos menos notáveis, deixando a desejar quando comparado à expressividade de seus graffitis espalhados pela cidade.
Entre os grafiteiros mais populares na capital paulista, o destaque absoluto vai para a instalação de Crânio. O artista conseguiu fazer uma releitura de toda energia e temática de sua obra, adaptada para o espaço controlado e tridimensional do museu: trata-se de uma oca cercada de seus típicos índios azuis, sátira do estilo de vida da classe média brasileira. A instalação pode ser apreciada de todos os ângulos, e traz detalhes tão minuciosos que permitem longos períodos explorando o trabalho – perfeito para o ambiente do museu, e cheio de seu tom crítico típico.
Outro destaque é para a escultura externa de Minhau, que criou uma versão gigantesca, de 4 metros de altura, de seus gatinhos coloridos.
Uma solução encontrada por alguns dos artistas, no desafio de recontextualizar as obras dentro do espaço do museu, foi recriar o contexto de rua. Essa foi a estratégia adotada por Onio, de Brasília: sua instalação recriava um beco pichado, com direito a um morador de rua deitado no chão. Curiosamente, quadros de graffiti estavam posicionados dentro de uma lata de lixo: sutilizada destinada a criticar a “galerização” da arte urbana?
Destaque para os artistas da Bahia, que trouxeram trabalhos de grande força, provavelmente dos mais hipnóticos da exposição. Sinhá fez um mural poderoso que utilizava-se de mídias diversas para expressar uma mesma ideia – a do seio de uma mulher – em uma obra melancólica e poderosa. BGOD tem um traço cheio de energia, e traz elementos regionais como a carranca com uma releitura contemporânea: basta focar-se na expressividade no olhar das figuras. E Éder Muniz faz um trabalho rico, colorido e com um ar onírico – outra obra que merece tempo para análise e apreciação.
No grande painel interno, dividido por 15 artistas, o contraste mais interessante fica no trecho final, em que há o encontro entre o traço (sur)realista de Shalak, do Canadá, e o estilo cartoon de Skor Face, da Angola. O impacto da transição entre os estilos, somado à forma como as figuras parecer emergir uma das outras com perfeição, evoca o espírito de colaboração e compartilhamento inerente do graffiti, e é um dos pontos altos da mostra.
Há ainda outros destaques, como o grande mural de stêncil de Daniel Melim, o impactante trabalho de Paulo Ito e o altar de rua, que mistura o sagrado e o profano, de AKN — que lembra vagamente os trabalhos de Stephan Doitschinoff, mas com bastante personalidade própria.
Uma pena que a exposição seja prejudicada por alguns elementos da produção, sobretudo pequenos deslizes no posicionamento das obras e equívocos graves na iluminação: a luz direta causa reflexo em vários trabalhos, criando “pontos de luz” e dificultando ao visitante que as veja como um todo. Mas nada disso muda o fato da exposição ser absolutamente imperdível, seja para aqueles que já são apaixonados pelo graffiti, seja para os que estão dispostos a apaixonar-se.
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II Bienal Internacional Graffiti Fine Art
Até 24 de fevereiro de 2013
MuBE – Museu Brasileiro da Escultura
Av. Europa, 218 – São Paulo
Terça a domingo, das 10h às 19h
Entrada gratuita
fonte:
http://falacultura.com/2013/01/28/ii-bienal-graffiti-fine-art/
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