Rede Brasil de Festivais!
Os festivais de música sempre tiveram um importante papel simbólico e estrutural na construção da narrativa da Música Brasileira. Seja através de processos de promoção, de rotas de circulação e formação de platéia, até o momento mais recente, no qual os festivais de música independente assumiram um papel de protagonismo na irradiação da nova música brasileira e, fundamentalmente, das novas tecnologias e alternativas para o cenário crítico vivido pelo modelo anterior.
De forma comprometida e movidos pelo desejo de abrir espaço para estes novos artistas, pouco mais de uma dezena de produtores procurou, a partir dos anos 90, construir projetos de música independente em suas próprias cidades, como uma forma de criar pontes entre o cenário cultural local e o mundo. A partir dos anos 2000, com o acirramento da crise da grande indústria, e com as conexões promovidas pela cultura digital, este processo ganha mais força, ao mesmo tempo em que o contato entre estes produtores se intensifica.
Como fruto disso, em 2005, 16 festivais de música independente se unem numa iniciativa inovadora que gerou conseqüências decisivas para o cenário musical brasileiro. Com base em três princípios fundamentais: compromisso com a cena local, compromisso com a continuidade, e troca de tecnologias, estes festivais já não estavam mais isolados em suas cidades e constituíram a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes).
A experiência de cada um serviu como base para o alinhamento e a consolidação de uma série de ações coletivas. A promoção de um calendário nacional de festivais somou-se à composição de uma variedade de bandeiras, que passaram a ser encampadas, forçando a reavaliação de alguns princípios, tanto de políticas públicas para a cultura quanto para o próprio mercado da música. Mais do que tudo isso, aquela iniciativa construída durante o governo Lula - e de seu Ministério da Cultura tropicalista -, serviu como importante alusão ao reposicionamento do mercado da música independente brasileira, a partir da lógica associativa e colaborativa.
Consolidada, a Abrafin canalizou e fomentou vários debates, envolvendo temas diversos e muitas vezes polêmicos. Num primeiro momento, o impulso veio pelo apelo de sua novidade e, depois pelo fortalecimento dos festivais independentes, tornando-se uma plataforma fundamental para a criação de ambientes propícios à circulação não apenas artística, mas também de conhecimento. Estes debates contribuíram muito para que os antigos e novos formatos de produção e gestão pudessem se encontrar, dialogar e estabelecer os seus limites.
A intensificação deste processo ficou clara com o aumento significativo dos festivais por todo o Brasil, e diante disso, era necessário compreender os novos desafios colocados para este campo associativo. A disseminação da cultura de rede nos setores da sociedade e, especialmente no meio cultural, apontaram caminhos e mapearam diversas dificuldades que devem ser transformadas em oportunidades. A passagem da ação individual, para uma ação coletiva, deverá ser complementada com a intensificação dos espaços de troca e colaboração e dos processos de descentralização, como alternativa capaz de dar conta de uma demanda cada vez maior e da necessidade de ampliar a sistematização e a geração de indicadores ligados a este setor.
A partir daí surgem os Circuitos Regionais, e a compreensão de que a lógica corporativa e de classe, importante a princípio para a ampliação de um novo ambiente associativo, deverá ser transposta para que o método colaborativo avance e um novo modelo de mercado musical realmente floresça.
Nesta semana, o lançamento dos Circuitos Regionais e Estaduais de Festivais, que a partir de agora formam a base de nossa organização, apresenta-se como o marco deste novo momento. Muita coisa mudou nos festivais, no Brasil e nos modelos de gestão e da entidade. Da mesma forma que foi necessário um ato simples e inovador para iniciar a trajetória descrita acima, nós, produtores de festivais filiados a Abrafin, entendemos que precisamos de um ato que simbolize este novo paradigma.
Para isso, lançamos hoje, a Rede Brasil de Festivais, com o compromisso fundamental de dar seqüência a esta história. Estamos conscientes do que construímos, mas, principalmente, comprometidos com o futuro e os desafios que temos pela frente. É preciso seguir e a força demonstrada pelos movimentos culturais brasileiros nos últimos anos, nos estimula a consolidar o Brasil como a Embaixada Mundial das Redes de Cultura no Mundo.
Salve os festivais independentes brasileiros e todas as suas conexões!
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